Depois de uma ampla reforma na economia que tirou o Japão de
duas décadas de deflação e de uma recessão profunda, agora o foco do governo de
Shinzo Abe é ajudar as empresas a garantir mão de obra para poder crescer.
A escassez de trabalhadores é, segundo economistas, um dos
grandes problemas que o Japão enfrenta hoje e que impede a rápida recuperação
da terceira maior economia do mundo.
Barreira do idioma
Cerca de 180 mil brasileiros vivem hoje no Japão, grande
parte trabalhando em linhas de montagem. Em 2007, antes da crise econômica,
este número chegou a quase 320 mil. A grande maioria voltou ao Brasil nos anos
2008/2009 e após o terremoto de março de 2011.
Rogerio Taques, 34, voltou ao Brasil depois de um período de
três anos trabalhando em fábrica logo após a crise econômica. "Da primeira
vez, o objetivo era juntar o máximo de dinheiro, por isso não fazia questão de
aprender o idioma japonês", conta.
Mas em julho de 2011, ele e a esposa resolveram voltar ao
Japão, desta vez como imigrantes. "Sou formado em engenharia de sistemas e
vim com a ideia de tentar uma vaga na minha área de formação, mesmo sem falar
fluentemente o idioma."
O caminho foi muito difícil, mas em novembro de 2012 ele
conseguiu uma vaga como programador web. Taques mostrou suas qualidades e,
depois de colher sucessos implantando diversos programas no sistema de
trabalho, foi promovido e ocupa hoje o cargo de diretor de TI do grupo todo,
que engloba ao todo três empresas.
"Quando procurava por um emprego fiz diversas
entrevistas em dezenas de empresas, mas o fato de não falar fluentemente o
japonês virou uma grande barreira”, admite. "Mas nunca desisti e me
esforcei bastante", completa.
O consultor sênior de sistemas industriais Eric Evangelista
Ohtake, 31, de São Paulo, conhece muito bem este problema. Ele é altamente
qualificado e fluente em alemão, espanhol e inglês, além do português. Mas não
fala japonês.
"Concorri a três vagas em empresas japonesas. Foram
muito educados, receberam meu currículo, falamos por telefone, porém o fim da
linha era sempre a falta do idioma local", lamenta.
Setores em crise
O rápido envelhecimento da população e a baixa taxa de
natalidade são pontos-chave em discussão hoje no Japão, que busca soluções para
manter o ritmo de crescimento do país.
Entre as principais críticas ao governo estão a falta de uma
política migratória e leis trabalhistas mais flexíveis.
Enquanto a solução não aparece, a falta de trabalhadores,
qualificados ou não, tem obrigado muitas empresas a repensar os planos de
expansão.
Alguns setores já falam até em crise, pois não vêm outra
saída além da restrição nas operações e do aumento de salários.
Companhias aéreas, empresas varejistas e rede de
restaurantes são algumas das áreas que sofrem com a escassez de trabalhadores.
Em alguns casos extremos, as empresas são obrigadas a fechar lojas por não
conseguir preencher as vagas.
Um relatório do governo japonês sobre a área de aviação
divulgado recentemente mostrou que algumas companhias aéreas de baixo custo,
como Jetstar Japan e Vanilla Air, foram obrigadas a cancelar centenas de voos
neste verão.
Pela mesma razão, a Peach Aviation, uma joint venture da All
Nippon Airwais (ANA), uma das maiores empresas aéreas japonesas, disse no mês
passado que avalia o cancelamento de mais de 2 mil voos este ano - um corte de
16% no total planejado para 2014.
"Não há pilotos suficientes e, para treiná-los,
gasta-se tempo e dinheiro", justificou o porta-voz da companhia, Hironori
Sakagami.
Fonte: BBC Brasil
0 comentários:
Postar um comentário